11 setembro 2025

Fux absolve Bolsonaro dos cinco crimes da trama golpista

 Ministro afirma que ex-presidente apenas cogitou medidas e rejeita acusações da PGR

O julgamento da chamada “trama golpista” no Supremo Tribunal Federal (STF) ganhou novos contornos nesta quarta-feira (10), quando o ministro Luiz Fux votou pela absolvição de Jair Bolsonaro. A decisão abriu divergência em relação ao relator, ministro Alexandre de Moraes, e ao ministro Flávio Dino, que já haviam votado pela condenação do ex-presidente.


O voto de Fux

Logo no início, Fux rejeitou integralmente as acusações da Procuradoria-Geral da República (PGR), que pedia a condenação de Bolsonaro por organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado — crimes que poderiam somar até 30 anos de prisão.

Segundo Fux, a PGR “adotou uma narrativa desprendida dos fatos” ao tentar responsabilizar Bolsonaro. Para ele, os atos do ex-presidente quando ainda estava no cargo não configuram crime.

“Resta fora dos limites semânticos do tipo penal, o comportamento do mandatário que se encontra no exercício do cargo, mas viola os deveres limites a ele inerentes, com o intuito de perpetuar-se no poder, o chamado autogolpe”, afirmou.


Minuta do golpe

Um dos pontos centrais do processo foi a chamada “minuta do golpe”. Sobre esse tema, Fux destacou que houve apenas discussões e cogitação de medidas, mas nada foi colocado em prática.

“Nas reuniões de novembro de 2022, [com as Forças Armadas] houve uma mera cogitação do emprego de medidas de Garantia da Lei e da Ordem, como fruto da irresignação do réu [Bolsonaro] quanto ao insucesso de sua representação ao TSE”, explicou.
“Não aconteceu nada”, completou o ministro.


8 de janeiro

Em relação aos atos de vandalismo contra os Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, Fux classificou as acusações da PGR como ilações.

“Esses elementos jamais podem sustentar a ilação de que Jair Bolsonaro tinha algum tipo de ligação com os vândalos que depredaram as sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023”, declarou.

E foi além:

“Não encontra amparo na legislação criminal a pretensão de considerar alguém partícipe de um crime praticado meses ou anos depois por terceiros.”


Outros pontos do voto

  • Abin paralela: Para Fux, não há provas de que Bolsonaro tenha usado a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar ministros do STF ou adversários políticos.

“Não logrou a acusação explicar quais dispositivos legais proibiam o emprego da ferramenta FirstMile [software espião] pela Abin nem a participação dolosa e direta do réu [Bolsonaro] no que concerne a sua utilização.”

  • Ataques às urnas eletrônicas: O ministro também afastou a acusação de tentativa de golpe por meio de declarações sobre o sistema eleitoral.

“Não se pode admitir que possa configurar tentativa de abolição do estado democrático de Direito discursos e entrevistas, ainda que contenham questionamentos sobre a regularidade do sistema de votação ou acusações contra membros de outros poderes.”


O que está em jogo

Apesar do voto de Fux, o placar até agora é de 2 a 1 pela condenação de Bolsonaro e outros sete réus. A análise do caso segue no STF e ainda depende dos votos de outros ministros.

Entre os réus estão militares de alta patente e ex-ministros de Bolsonaro, como Mauro Cid, Braga Netto, Augusto Heleno, Anderson Torres, Paulo Sérgio Nogueira, Almir Garnier e Alexandre Ramagem.


COMENTÁRIO SIDNEY ARAUJO: 

O voto de Fux foi exatamente o que se espera de um juiz técnico: analisou ponto por ponto e absolveu Bolsonaro no chamado “golpe da Disney”, como é chamado pela oposição. Afinal, Bolsonaro conduziu a transição de governo, nomeou generais indicados por Lula, antes da posse, não estava no Brasil durante os fatos e sequer se manifestou em redes sociais — optou pelo silêncio.

Mesmo acreditando na inocência de Bolsonaro, já que até agora não surgiram provas concretas de seu envolvimento em qualquer ato, é importante lembrar que consultar militares não é crime — a própria Dilma fez o mesmo, às vésperas do impeachment.

Ainda assim, sabemos que a condenação é quase certa, porque, infelizmente, nem todos os julgadores atuam com o mesmo rigor técnico demonstrado por Fux.

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