Idacildo Cortez ficou famoso no país, após pichação com acusações antipetista
Sem imaginar, o comerciante potiguar Idacildo Cortez, 53, passou do
anonimato à fama graças a uma pichação com acusações
políticas/partidárias a sua pessoa. A retaliação sofrida, com víeis de
tirania, veio através das frases que foram escritas na sua Kombi-Lanche,
estacionada em seu rotineiro ponto de trabalho: “Não compre aqui. Ele é
anti-PT e fala mal de petista” e “Peça a Aécio que ele paga”.
A manifestação pegou Idacildo de surpresa duplamente, sendo pelo fato
inesperado e, agora, pela fama internacional que o comerciante
conquistou. Segundo ele, veículos de imprensa de todo o Brasil e do
mundo querem contar a sua história, a pressão que ele sofreu e como
conseguiu multiplicar as vendas de coxinha em 20 vezes. Hoje, as famosas
coxinhas ganharam o nome de “coxinhas opressoras”.
Idacildo conta que frequentemente critica o governo de Dilma Rousseff
e do PT nas redes sociais, mas nunca havia imaginado que pudesse passar
por uma situação de opressão em seu próprio ambiente de trabalho.
Clientes que acompanhavam suas postagens diariamente, principalmente
após a acirrada eleição presidencial, passaram a criticá-lo pela maneira
em que o comerciante atacava o Partido dos Trabalhadores.
“Sempre quis mostrar minha ideologia para as pessoas, tentando
convencer aos meus amigos e clientes que o Brasil precisa de mudança, a
começar com a extinção do PT”, conta. “Sempre discuti assuntos políticos
nas redes sociais por pensar que ali é um espaço democrático. Essa foi a
forma que encontrei de manifestar meu posicionamento”, explicou.
O que Iracildo não esperava é que um dia o ambiente
virtual/democrático fosse se virar contra ele e, depois, a favor dele.
“Os clientes petistas passavam em frente a minha kombi me chamando de
opressor, de anti-petista. Falando que as comidas que eu vendo são
opressoras. Tudo por causa da repercussão dos meus comentários nas redes
sociais. A curiosidade das pessoas com relação à kombi anti-pestista e
aos lanches foi tanta que acabou atraindo muitas pessoas. Então, o que
pareceu ruim acabou virando algo muito bom para o meu negócio”, afirmou.
Conforme contou o comerciante, o susto e o temor inicial foram
neutralizados em poucos dias por efeitos contrários aos desejados pelos
vândalos. A história se espalhou e os fregueses que apoiavam Idacildo
começaram a surgir com comentários de bom humor.
Em entrevista a O JORNAL DE HOJE, o Iracildo Cortez contou que
resolveu usar o nome ‘coxinha opressora’ devido ao calor dos
acontecimentos. “Foi assim que um dia um rapaz pediu a coxinha, em tom
de deboche, e eu acabei adotando. Chegaram a pedir ‘cachorro-quente
militante’ e até ‘minipizza do congresso’, mas o que pegou mesmo foi a
coxinha opressora”, comentou.
Hoje, a Kombi-Lanche ganhou o apelido de “Kombi-Reaça” e o produto
mais consumido pela clientela é a coxinha. Antes da fama, o produto com
maior número de vendes era o combo pastel + caldo de cana. Agora, as
vendas de coxinhas passaram de 10 a 15 unidades por dia para uma média
diária de 200 coxinhas.
“O pessoal gosta de chamar quem é contra o PT de ‘Coxinha’ ou até
‘Reacionário’. Resolvi levar na esportiva e aceitei a sugestão, que está
fazendo o maior sucesso. Turistas de vários locais do país procuram
minha kombi para me cumprimentar. Estou até arriscando dizer que, neste
momento, a Kombi-Reaça e a Coxinha Opressora fazem parte dos pontos
turísticos de Natal”, afirmou.
Medo
Natural da cidade de Currais Novos, Idacildo Cortez se mudou de vez
para a capital potiguar em 1991. Separado, pai de dois filhos
adolescentes, ele conta que apesar de estar desfrutando da fama –
através das inúmeras entrevistas concedidas e aumento da clientela – ele
teme o que pode vir a acontecer. Conforme relatou à reportagem, as
manifestações políticas não têm limites.
“Três funcionários que trabalhavam comigo resolveram me deixar no
início das acusações. Eu fiquei sozinho aqui e de uma hora pra outra vi
tudo se transformar. Continuo trabalhando diariamente, mas sei que corro
risco na mão de pessoas que não tem bom senso, como no caso de quem
pichou a kombi. Até hoje não seu quem fez isso, muito menos o que ainda
pode acontecer”, disse.
Em desabafo, o comerciante conta que sofreu ameaças duas vezes: uma
quando teve os pneus do carro furado, enquanto dava uma entrevista, e a
segunda através de ligação anônima, quando uma voz de menina chorando
chamava pelo pai, pedindo “que fizessem o que eles queriam”. “Não sei do
quê ou de quem se tratava. Na mesma hora liguei para minha ex-mulher e
me certifiquei que minha filha estava dormindo”, contou.
“Sou um trabalhador comum como qualquer outra pessoa. Não tenho
segurança privada, não conto com suporte policial e faço meus
investimentos no meu próprio negócio, tudo muito correto. Porém, é fato
que algumas coisas mudaram e isso me dá medo”, afirmou.
Após as pichações e a fama conquistada, Idacildo Cortez disse que foi
procurado pela Vigilância Sanitária e até pela Cosern (Companhia
Energética do Rio Grande do Norte), com denúncia de que ele roubava
energia. “Isso prova que tem alguém por trás me perseguindo. Eu sou
muito correto com minha Kombi e tenho como provar isso”.
Mercado de franquias
As possíveis perseguições vêm fazendo Idacildo pensar em fechar sua
Kombi, para não correr maiores riscos. Porém, ao mesmo tempo,
empresários de todos os Estados do Brasil já lhe procuraram com
pretensão de ampliar seu negócio, levando a Kombi-Reaça e Coxinhas
Opressoras para todos os locais do país.
“Essa é uma possibilidade que estou estudando e vejo que pode dar
muito certo. É uma boa saída para mim. Mas preciso parar um pouco para
pensar. Não tive tempo ainda de parar para procurar um advogado, fazer
uma consultoria. Tudo ainda não passa de propostas”, destacou.
Uma das marcas de Idacildo é um óculos escuro que ele usa todos os
dias, uma vez que a kombi começa a vender lanches às 14h. “Por incrível
que pareça, há até propostas de lançar os Óculos Opressores. Como havia
dito, é muita coisa para minha cabeça. Meu telefone não para, minha rede
social é o tempo todo comentada. O assédio está sendo maior que o de
artista”, brincou.
Fonte: Jornal de Hoje
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