15 dezembro 2025

Financiamento dos EUA a mineradoras brasileiras antecipa acordo por terras raras e reduz poder de barganha do Brasil

Mina da Serra Verde,
em Goiás - 
Divulgação

São Paulo — Mesmo sem um acordo formal entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos sobre minerais críticos, empresas americanas já avançam estrategicamente sobre o setor de terras raras no país. Duas mineradoras com projetos em estágio avançado no Brasil firmaram recentemente contratos de financiamento com um banco estatal dos EUA, o que pode garantir aos americanos vantagem no acesso a esses minerais considerados estratégicos.

As mineradoras Serra Verde e Aclara, ambas com operações em Goiás, fecharam acordos com a Development Finance Corporation (DFC), agência estatal dos Estados Unidos voltada ao financiamento de projetos no exterior. Os contratos podem evoluir para parcerias ainda mais amplas. No caso da Aclara, por exemplo, o financiamento prevê a possibilidade de conversão da dívida em participação acionária no futuro.

As chamadas terras raras correspondem a um grupo de 17 elementos químicos de extração e refino complexos. Esses minerais são fundamentais para a fabricação de ímãs utilizados em tecnologias ligadas à transição energética, como veículos elétricos, além de aplicações na indústria de defesa e em equipamentos de alta tecnologia.

Para os Estados Unidos, a iniciativa faz parte de uma estratégia clara de reduzir a dependência da China, que atualmente concentra cerca de 60% da extração global de terras raras e aproximadamente 90% da capacidade mundial de refino. Já para o Brasil, os acordos levantam alertas, pois podem enfraquecer o poder de negociação do país em um setor estratégico, justamente em um momento em que ainda se discutem possíveis parcerias governamentais.

O Brasil possui a terceira maior reserva de terras raras do mundo, atrás apenas da China e do Vietnã. No entanto, o avanço de acordos diretos entre empresas brasileiras e instituições estrangeiras, sem a participação direta do governo brasileiro, pode limitar a capacidade do país de obter melhores contrapartidas em futuras negociações internacionais.

O movimento mais recente envolve a Serra Verde, atualmente a única mineradora de terras raras em operação no Brasil e uma das poucas fora da China. A empresa — controlada por dois fundos de investimento americanos e um britânico — anunciou em novembro a obtenção de um empréstimo de US$ 465 milhões (cerca de R$ 2,5 bilhões) junto ao DFC.

O cenário reforça o debate sobre soberania, estratégia industrial e o papel do Estado brasileiro na condução de acordos envolvendo recursos naturais considerados essenciais para o futuro da economia global.

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