08 dezembro 2025

Selic a 15%: o que realmente segura a inflação no Brasil — e por que reduzir agora pode custar caro

Sidney Araújo

Enquanto o governo federal insiste em pressionar o Banco Central por uma redução imediata da taxa Selic, a realidade econômica mostra outro cenário: é justamente a Selic em 15% que vem segurando a inflação no Brasil, mesmo com o país claramente não fazendo o dever de casa na área fiscal.

A lógica é simples:

Se o governo força uma queda artificial dos juros agora, o dólar tende a subir — e, com ele, a inflação.

Num momento em que o Brasil vive incertezas fiscais, desconfiança dos investidores e expectativas negativas para 2026, reduzir a taxa básica seria abrir a porta para um problema ainda maior mais à frente.


Risco real: dólar mais alto e inflação reacendida

A Selic é o principal instrumento do Banco Central para controlar a alta de preços. Quando ela está elevada, como agora, a economia desacelera, o consumo diminui e os preços param de subir.

Porém, se o governo insistir em baixar a Selic sem fundamentos, os efeitos podem vir rápido:

  • Dólar dispara

  • Importados ficam mais caros

  • Combustíveis sobem

  • Alimentos e transporte pesam mais no bolso

  • Inflação volta a aumentar

Ou seja:

A pressa para cair os juros pode custar muito mais à população depois.


Cenário fiscal fraco impede queda sustentável dos juros

Economistas apontam que o grande problema hoje não é o Banco Central, e sim a falta de confiança na política fiscal do governo federal. Gastos elevados, metas instáveis e declarações contraditórias criam um ambiente de incerteza que impede qualquer movimento seguro de queda da Selic.

Em outras palavras:

Sem arrumar a casa, não existe espaço real para juros menores.


Copom deve manter Selic em 15% e só abrir espaço para cortes em 2026

Às vésperas da última reunião do ano, marcada para quarta-feira (10), a expectativa é unânime:
o Copom deve manter a Selic em 15%, apesar do PIB fraco.

A aposta do mercado é que o Banco Central apenas flexibilize o discurso, preparando terreno para cortes somente em 2026. Há divergências se o ciclo começará em janeiro ou março do próximo ano, mas nenhum analista sério espera redução agora.

Se isso se confirmar, é provável que novas críticas do governo Lula e de setores empresariais recaiam sobre o BC — especialmente porque o próprio ministro Fernando Haddad já declarou que a Selic no atual patamar é “insustentável”.

Mas, na prática, a pergunta que fica é:
insustentável para quem? Para a economia ou para a política?


Conclusão: a Selic não é o problema — é a proteção

O que segura a inflação hoje não é a disciplina fiscal do governo, mas sim a Selic mantida em 15% pelo Banco Central.
Cortar a taxa antes da hora seria colocar em risco a estabilidade dos preços, a confiança dos investidores e o poder de compra da população.

Enquanto Brasília não fizer o dever de casa, os juros continuarão altos e baixar na marra só traria ainda mais problemas.

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