27 janeiro 2013

Dona casa de taípa




Compartilho com vocês essa poesia feita por mim em 2008 no sítio umburana município da nossa querida Florânia. Consequência de um grande espanto e admiração durante as gravações do curta-metragem “O boi do Lixo”, nesse dia fiquei, posso dizer, “beradeirado” ou abestalhado com outro tipo de universo que eu pensava não mais existir na nossa região. Trata-se de uma poesia um tanto quanto descritiva reunindo os elementos legítimos somando-se à uma configuração verdadeira da vida do sertanejo nordestino. A poesia tem oito laudas, entretanto, somente algumas estrofes foram postadas. Olhem as fotos, leiam o texto e aqueles que já moraram numa casa de taípa me ajudem a descrever qual o sentimento. A casa pertence ao senhor Zé Luzia.






Dona casa de taipa



Casa de taipa tão longe…

Do barulho da cidade,

Dos aparatos, da vaidade,

Das coisas exageradas,

Do brilho da inverdade

E do sereno da cobiça.

Casa de taipa tão perto…

Das primeiras luzes matutinas,

Dos terrenos da tranqüilidade

De um silêncio que é berro

E de um berro que acorda o silêncio.

Só mesmo chamando de dona,

Respeitando-te com todas as honras

Que sabe um pobre sertanejo.



Dona de um céu nebuloso,

Desenhado por aranhas

E enfeitado pela poeira

Sem nenhuma intenção

Mas, que prende a atenção

E o olhar da solidão,

Nas noites sem distração

De um canto caloroso,

Num lugar que vive embalado

Nos balanços e ringidos,

De redes presas a pedaços

De mufumbos contorcidos.


Dona de um guardador,

Que prende no seu interior

A pancada engasgada

De um pilão que não vê água

No seu bojo sofredor.

E que trabalha sob pressão

Para intestinos que não esperam

Pela hora do chamado.

Mas, ninguém ouve um clamor

E nem vê na sua mão um calo.




Mas que dona mais espaçosa

Essa dona casa de taipa,

Abriga na sua ante-sala

Um baú de madeira fornida,

Montado por diversas tariscas,

Encostado na porta de um quarto

Que habita um sossego tão calado…

Pouco importando os marcadores de hora;

Baú, que guarda algumas roupas,

Guarda também outras coisas

De uma intimidade que me cala.

Em cima dele fica um chapelão de palha,

Maltratado por rajadas cansativas

De um girassol que não murcha

Nem mesmo com a neblina.




Assentado debaixo do alpendre,

Fica um assento para as visitas

Confortando uma prosa divertida

E um assustado, oxente!

Banco este que se torna verdade

Desde as raízes da aroeira

Que é moldada para eternidade

Nas bocas mais verdadeiras;

Completando uma mobília tão modesta,

Um rádio da marca Abc,

Que lá dentro é a coisa mais recente,

Esperando qualquer dizer

Que deixe todos contentes.



Joelson Araújo






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