Compartilho com vocês essa poesia feita por mim em 2008 no sítio umburana município da nossa querida Florânia. Consequência de um grande espanto e admiração durante as gravações do curta-metragem “O boi do Lixo”, nesse dia fiquei, posso dizer, “beradeirado” ou abestalhado com outro tipo de universo que eu pensava não mais existir na nossa região. Trata-se de uma poesia um tanto quanto descritiva reunindo os elementos legítimos somando-se à uma configuração verdadeira da vida do sertanejo nordestino. A poesia tem oito laudas, entretanto, somente algumas estrofes foram postadas. Olhem as fotos, leiam o texto e aqueles que já moraram numa casa de taípa me ajudem a descrever qual o sentimento. A casa pertence ao senhor Zé Luzia.
Dona casa de taipa
Casa de taipa tão longe…
Do barulho da cidade,
Dos aparatos, da vaidade,
Das coisas exageradas,
Do brilho da inverdade
E do sereno da cobiça.
Casa de taipa tão perto…
Das primeiras luzes matutinas,
Dos terrenos da tranqüilidade
De um silêncio que é berro
E de um berro que acorda o silêncio.
Só mesmo chamando de dona,
Respeitando-te com todas as honras
Que sabe um pobre sertanejo.
Dona de um céu nebuloso,
Desenhado por aranhas
E enfeitado pela poeira
Sem nenhuma intenção
Mas, que prende a atenção
E o olhar da solidão,
Nas noites sem distração
De um canto caloroso,
Num lugar que vive embalado
Nos balanços e ringidos,
De redes presas a pedaços
De mufumbos contorcidos.
Dona de um guardador,
Que prende no seu interior
A pancada engasgada
De um pilão que não vê água
No seu bojo sofredor.
E que trabalha sob pressão
Para intestinos que não esperam
Pela hora do chamado.
Mas, ninguém ouve um clamor
E nem vê na sua mão um calo.
Mas que dona mais espaçosa
Essa dona casa de taipa,
Abriga na sua ante-sala
Um baú de madeira fornida,
Montado por diversas tariscas,
Encostado na porta de um quarto
Que habita um sossego tão calado…
Pouco importando os marcadores de hora;
Baú, que guarda algumas roupas,
Guarda também outras coisas
De uma intimidade que me cala.
Em cima dele fica um chapelão de palha,
Maltratado por rajadas cansativas
De um girassol que não murcha
Nem mesmo com a neblina.
Assentado debaixo do alpendre,
Fica um assento para as visitas
Confortando uma prosa divertida
E um assustado, oxente!
Banco este que se torna verdade
Desde as raízes da aroeira
Que é moldada para eternidade
Nas bocas mais verdadeiras;
Completando uma mobília tão modesta,
Um rádio da marca Abc,
Que lá dentro é a coisa mais recente,
Esperando qualquer dizer
Que deixe todos contentes.
Joelson Araújo
Fonte: Coisas de Florania
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