O presidente do Senado, Renan Calheiros, decidiu nesta segunda-feira
(9) dar continuidade ao processo de afastamento da presidente Dilma
Rousseff, após rejeitar a decisão do presidente em exercício da Câmara,
Waldir Maranhão (PP-MA), de anular as sessões que aprovaram a
admissibilidade do impeachment naquela Casa. Com isso, foi lido o resumo
do parecer da Comissão Especial de Impeachment pela admissibilidade do
processo. Agora, há um prazo de 48 horas até que se possa realizar a
votação da matéria no Plenário do Senado.
A decisão de Renan de desconsiderar a anulação do processo por Waldir
Maranhão gerou discussão entre a oposição e a base governista. Ao sair
do Senado Federal na noite desta segunda, o presidente do Senado afirmou
que a sessão de análise da admissibilidade deve ser iniciada quarta (11), às 9h e ser concluída no mesmo dia.
Ao anunciar sua decisão, Renan explicou que não poderia
interferir nos discursos proferidos pelos deputados, antes da votação
naquela Casa, no dia 17 de abril. O anúncio de votos e a orientação
partidária foram argumentos citados por Waldir Maranhão para anular a
sessão. Renan também rejeitou a alegação de que a decisão da Câmara pela
admissibilidade não poderia ter sido encaminhada por ofício. Maranhão
argumentou que o documento adequado seria uma resolução.
Renan afirmou, ainda, que a anulação foi intempestiva, pois o processo de impeachment já se encontra em discussão no Senado.
— Aceitar essa brincadeira com a democracia seria ficar
pessoalmente comprometido com o atraso do processo — concluiu Renan,
lembrando que, desde a chegada da matéria ao Senado, disse que não
agiria nem com pressa, nem com procrastinação.
O líder do governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE),
e a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) apresentaram questão de
ordem para suspender a leitura do relatório da Comissão com base na
decisão do presidente em exercício da Câmara. A questão foi indeferida
por Renan e o relatório foi lido na mesma sessão plenária pelo
primeiro-secretário da Casa, senador Vicentinho Alves (PR-TO).
Líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB) disse que não há mais
competência da Câmara para tratar do assunto, tendo em vista que o
processo contra Dilma já se encontra em tramitação no Senado. A matéria é
“precisa, intempestiva, procrastinatória, o PT e o governo tentam
obstruir o funcionamento do Senado, o governo não consegue se defender e
tenta adiar o julgamento”, observou.
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse que o direito de
defesa de Dilma foi cerceado na Câmara e que a decisão de Maranhão “não
tem nada de intempestivo e improcedente”. Segundo ela, a sessão da
Câmara teve que ser anulada porque houve encaminhamento de votação dos
líderes, o que é vedado pelo regimento interno daquela Casa. Disse ainda
que o processo contra Dilma é viciado, sem crime determinado e que não
há provas de crime de responsabilidade.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) afirmou que Renan está
“errando muito”. O senador cobrou a suspensão da sessão e avaliou que o
Senado não pode ser cúmplice da ilegalidade cometida contra Dilma.
Em resposta a Lindbergh, Renan disse que vai seguir com
imparcialidade e isenção, tendo como base a Constituição, o Regimento
Interno da Casa, a legislação e os precedentes de 1992, em referência à
atuação do Senado durante o processo de impeachment do então presidente
Fernando Collor.
— Decidir de acordo com o atual presidente da Câmara seria sair
dessa imparcialidade. E eu não sairei da imparcialidade. A história é
plural, a Casa é plural, também. E a história permitirá de todos nós
muitas interpretações. Ninguém nesta Casa está mais à vontade com sua
consciência e fidelidade aos postulados da democracia que o presidente
do Senado Federal — afirmou.
Fonte: Portal do Senado Federal
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