Neste dia 29 de março, a Sexta-feira Santa, que antecede o Sábado de Aleluia, é vivenciada de maneira singular no bairro José Bezerra de Araújo, em Currais Novos RN. A comunidade local mantém viva a tradição centenária de "malhar" o Judas, uma prática que se insere profundamente na cultura e na expressão popular da região. Passeando pelas ruas do bairro, é impossível não notar a presença marcante dos bonecos de Judas. Pendurados em postes, adornando muros e até mesmo encontrados nas calçadas, eles são uma representação vívida da tradição que perdura.
Ao cair da noite, a cena se torna ainda mais pitoresca. Os postes, em especial, se transformam em palcos para a exibição destes bonecos, meticulosamente vestidos e posicionados pelos moradores. Esta atividade comunitária não apenas fortalece os laços entre os habitantes mas também serve como um ato simbólico de memória e protesto. A tradição remete ao apóstolo Judas Iscariotes que, conforme narrado na Bíblia, traiu Jesus Cristo em troca de 30 moedas de prata.
Embora no passado a queima dos bonecos ao meio-dia fosse um aspecto comum desta tradição, tal prática tem se tornado menos frequente. Isso pode refletir mudanças nas percepções e atitudes da comunidade em relação à tradição ou considerações mais amplas sobre segurança e sustentabilidade ambiental.
No Brasil, também existe a escolha de figuras públicas, especialmente políticos, para representar Judas nos bonecos é uma forma crítica pela qual a população expressa sua insatisfação com o poder público. Essa prática sugere uma reflexão mais ampla sobre questões de confiança, traição e responsabilidade na gestão pública. Foi o caso, dos motoristas de aplicativo, que pegaram uma figura pública para colocar sua insatisfação, no atual momento.
A malhação de Judas, portanto, vai além de um mero ato de recordação histórica ou religiosa. Ela se inscreve como uma expressão cultural rica e multifacetada, que engloba aspectos de crítica social, comunhão comunitária e preservação de tradições. No bairro José Bezerra de Araújo, a Sexta-feira Santa continua a ser um dia de reflexão, união e, acima de tudo, de manifestação cultural viva que se transmite de geração em geração, mantendo acesa a chama da história e da cultura local.
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