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Pela primeira vez em duas décadas, o partido Movimento ao Socialismo (MAS), de Evo Morales, não disputará o primeiro segundo turno da sucessão presidencial na Bolívia (Foto: EFE/ Esteban Biba) |
Muito se fala sobre a crise da esquerda no mundo, mas, segundo importantes filósofos, sociólogos e historiadores ligados ao próprio campo progressista, o cenário vai além: trata-se do fim de um ciclo histórico. Para esses intelectuais, a esquerda perdeu sua capacidade de propor um projeto de sociedade que se contraponha ao capitalismo — e estaria vivendo seus últimos dias de relevância.
Um diagnóstico vindo de dentro
O mais curioso é que essa avaliação não parte de analistas conservadores, mas de pensadores que se identificam com a própria esquerda. Eles apontam que, embora partidos e movimentos políticos continuem usando a bandeira do progressismo, falta consistência teórica e visão de futuro.
A ascensão de pautas identitárias, como questões raciais e de gênero, seria um exemplo dessa fragilidade, vista por muitos como um afastamento das bases tradicionais da crítica anticapitalista.
O caso da Bolívia: símbolo de esgotamento
A recente derrota do partido Movimento ao Socialismo (MAS), fundado por Evo Morales, é considerada emblemática. Pela primeira vez em duas décadas, a legenda foi eliminada no primeiro turno das eleições presidenciais, dando espaço a dois candidatos alinhados à direita.
Entre os fatores que explicam o revés estão a crise econômica boliviana, com inflação de quase 25% ao ano e desabastecimento de combustíveis, além das disputas internas do partido. O próprio Morales teria contribuído para a implosão ao pedir que sua base votasse nulo ou em branco em protesto contra sua inelegibilidade.
Um debate que vem de longe
Desde a queda do Muro de Berlim, em 1989, e o colapso da União Soviética, em 1991, especialistas já discutem o enfraquecimento da esquerda mundial. O filósofo alemão Robert Kurz, por exemplo, alertava para a dificuldade de renovar a crítica ao capitalismo, o que abriu espaço para a expansão do neoliberalismo.
O historiador britânico Eric Hobsbawm também destacava que a ausência de renovação teórica deixou o campo socialista sem ferramentas para enfrentar os desafios do século XXI, mesmo diante de crises como a de 2008-2009.
Reflexão necessária
O enfraquecimento da esquerda não é apenas político, mas também intelectual. Sem propostas claras de futuro, movimentos progressistas enfrentam divisões internas, falta de identidade e o risco de se tornarem irrelevantes.
O debate, no entanto, continua em aberto: seria a esquerda capaz de se reinventar ou estaria realmente diante do seu fim?
Texto feito, apartir de Matéria da Gazeta do Povo -
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