O governo do PT, por meio do Ministério da Educação (MEC), apresentou recentemente o conteúdo preliminar da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que definirá os assuntos a serem estudados no ensino básico brasileiro pelos próximos anos. O documento causou polêmica diante das muitas mudanças propostas. Para o deputado federal Rogério Marinho, o projeto não apresenta nenhum “objetivo escolar, mas, sim, orientações políticas e ideológicas”. Confira abaixo artigo escrito pelo tucano sobre o assunto.
O novo currículo para o Ensino Básico
Deputado Federal Rogério Marinho
Como
preconizado pelo Plano Nacional de Educação (PNE), a Base Nacional
Comum Curricular (BNCC) para o ensino básico deverá estar pronta até
junho deste ano. Por ela serão determinados os conhecimentos e as
habilidades que cada estudante deverá aprender ao longo da educação
básica, compreendendo ensino fundamental e médio. A importância da
iniciativa é evidente: está se definindo a mais importante política
pública de longo prazo do País. O que está em jogo é o futuro que
desejamos construir para a Nação. Dada a importância do fato é temerário
deixar somente ao encargo do Ministério da Educação e do Conselho
Nacional de Educação, a elaboração deste documento. A sociedade tem que
entrar no jogo e na definição dos parâmetros e o congresso deve ser
consultado e deliberar a respeito.
Nos
últimos meses, a reação contra o conteúdo do documento preliminar da
base, feito e divulgado pelo MEC, é visível. As críticas se avolumam na
imprensa e em artigos científicos. Ao levar em consideração a opinião
abalizada de inúmeros intelectuais, professores e especialistas, há
sérios problemas na proposta do MEC. São equívocos técnicos,
incompreensões e invasão de conteúdos ideológicos e não científicos na
base. Ademais, são muitas as passagens, localizadas em todas as áreas de
conhecimento, carentes de sentido lógico e repletas de pseudos
conceitos não aplicáveis no dia a dia escolar. Uma leitura atenta mostra
que boa parte da base não tem aplicação prática no magistério; seria
mero discurso.
Na
área de Ciências Humanas, no texto de introdução, há exemplos
abundantes de passagens ilógicas e de impossível compreensão. Não são
objetivos ou sentenças que permitam aplicação pelos professores em seu
cotidiano. Eis um exemplo destacado dentre muitos outros: "no
entrecruzamento dos conhecimentos, as ações educativas exploram
sensibilidades, espacialidades, temporalidades, diversidades,
alteridades e racionalidades, possibilitando práticas interdisciplinares
e transversais, respeitando-se as particularidades dos fazeres e dos
saberes de cada componente curricular".
Não
há clareza, objetividade e simplicidade nesta passagem apresentada.
Este tipo de linguagem permeia todo documento preliminar. Clareza,
objetividade e simplicidade são critérios tradicionais da elaboração de
currículos escolares. Nesta versão apresentada, tais conceitos não foram
aplicados. O documento é recheado de palavras ambíguas, polissêmicas e
imprecisas. Consideramos esta confusão linguística um grave defeito a
ser sanado.
Com
o aprofundamento da leitura, também não se pode deixar de notar que o
documento está repleto de induções a ideologias estranhas ao universo
escolar e científico. Particularmente, há muitas declarações ideológicas
e de preferência para teorias marxistas expressas como objetivos de
ensino na área de Ciências Humanas, compreendendo Geografia, Sociologia,
Filosofia e História. Nestas matérias, percebe-se a completa confusão
que é feita entre objetivos de orientar ações e induzir comportamentos e
objetivos escolares propriamente ditos, como trabalhar informações e
conceitos científicos específicos.
O
historiador Ronaldo Vainfas, em artigo do último mês de dezembro no O
Globo, afirmou que: "A proposta do BNCC na disciplina de História é uma
aberração", para ele o conteúdo mutila os processos históricos globais, e
esconde de forma deliberada períodos importantes e essenciais na
cronologia da formação da civilização cristã ocidental moderna, sendo
fanática em uma abordagem em que há incentivo ao ódio racial e valores
terceiros mundista superados.
Conclui
que o resultado é o deliberado estímulo à ignorância e ao proselitismo
político marxista chavista, quando a História ocidental é focalizada
como periférica e vilã.
Portanto,
abandonou-se o conceito de cronologia para adotar uma sociologia
duvidosa de grupos e valorização de movimentos negros, índios e latinos
como centrais na nossa formação, cultura e História. Não há referência à
Grécia, Roma e a gêneses da civilização ocidental. Não há a História do
cristianismo, nada de idade média, moderna, tudo agora na proposta do
MEC se faz a partir de comunidades aniquilando a distribuição dos
eventos no tempo, elemento chave da compreensão histórica.
São
objetivos muito mais relacionados ao dever ser do aluno e à uma prática
de militância. Infelizmente, boa parte dos objetivos explicitados na
base não pode ser caracterizada como objetivo escolar, mas, sim,
orientações políticas e ideológicas.
De
antemão, é salutar ter bastante cuidado com a elaboração da base e
prever revisões periódicas do documento. Consideramos vital a realização
de consulta ao mundo acadêmico, a técnicos respeitados, aos professores
de redes de ensino básico, aos gestores estaduais e municipais de
educação e às famílias dos estudantes sobre os conteúdos da base, seus
objetivos, sua implementação, parâmetros internacionais seguidos e seus
pilares científicos e pedagógicos. E ao final o seu conteúdo deve ser
debatido e deliberado no Congresso Nacional. Todos estes elementos devem
estar explícitos e claros para a sociedade brasileira. Sob pena de
piorarmos ainda mais nossa sofrida educação.


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